sábado, 15 de março de 2008

A perversão nas estruturas de sentimento da sociedade brasileira






Zeitgeist é um termo alemão, que se traduz como espírito do tempo, também podendo se utilizar do termo em português para denominá-lo. O Zeitgeist significa, em suma, o nível de avanço intelectual e cultural do mundo, em uma época.

Texto diretamente inspirado pela magnífica aula do Professor de História social da Arte do departamento de História da USP, Francisco Alembert, que mostrou-nos por meio da música Antonico[1] de Imael Silva, como a lógica do favor pode ser cruel e perversa.


Por Augusto Patrini Menna Barreto Gomes



A Lógica do favor, como já disse Roberto Schwarz está profundamente arraigada nas relações sociais dos brasileiros, e se estende um uma estrutura de sentimentos pelas vidas sociais, nas esperas pública e privada, na intima e na vida profissional; de uma maneira tão intensa que é bastante correlata ao que a máfia italiana costumava/costuma desenvolver. A sociedade civil, se é que se pode considerar a existência de uma sociedade civil aqui, estrutura-se em uma rede de dependências, comprometimentos, trocas – e confusões ao que é público e ao que é privado. Essa rede de dependências envolve de forma hierárquica, estamental e autoritária, indivíduos que não são iguais – nem mesmo perante o Estado. Alguns indivíduos são sujeito, outros são objetos. Entretanto, não obstante sua crueldade, esta rede de favores e dependências é dissimulada, “amável” e sedutora – ou seja, da forma mais cínica esconde – toda uma rede de clientelismos e de não-ditos - que determinam os lugares sociais de cada pessoa. Esta “estrutura de sentimentos”, assim como definiu R. Wilhans, expressa-se por uma lógica de vassalagem e subordinação que tem direta relação com a instituição social que tornou-se o “favor” no Brasil – e com ela a hierarquização, dissimulação e opressão, que estende-se por todas as esferas da vida brasileira. O Indivíduo aqui tem sentido limitado e só existe enquanto seu lugar nesta rede perversa de sentimentos e obrigações.

Bibliografia:

Scharz, Roberto. As idéias fora do Lugar.
Franco, Maria Sylvia de Carvalho. As idéias estão no lugar. IN: Cadernos de debate I – História do Brasil, SP, Brasiliense, 1976


[1] Ó Antonico, vou lher pedir um favor / Que só depende da sua boa vontade/ É necessário uma viração pro Nestor / Que está vivendo em grande dificuldade / ele está mesmo dançando na corda bamba / Ele é aquele que na escola de samba/ toca cuíca, coca surdo e tamborim/ Faça por ele como se fosse por mim. Até macumba já fizeram para o rapaz/ porque no samba ninguém faz o que ele fez / mas hei de vê-lo muito bem, se deus quiser,/ e agradeço o que você fizer. (os grifos são meus, eles estão pois demonstram a crueldade da relação de favores, e estrutura hierárquica destas relações de sentimentos. Qualquer semelhança com a máfia italiana não é mera coincidência, penso que a sociedade brasileira vive aprisionada numa rede de relações de trocas e favores, que é extremamente cruel, excludente e autoritária.

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