sábado, 5 de abril de 2008

O Crocodilo

Dostoievski, F. O Crocodilo. São Paulo: Editora 34, 2000.
por Augusto Patrini


O tratamento dado ao tema da introdução do capitalismo é assaz irônico. O conto torna-se fantástico por que explora absurdos e ambigüidades da introdução imposta do capitalismo, de cima para baixo, e de princípios políticos e econômicos próprios do liberalismo.
Neste texto, o crocodilo, animal absolutamente estranho para a Rússia, talvez seja uma alegoria ao capitalismo na Rússia e a propriedade capitalista. A forma absurda como o crocodilo devora o funcionário representa, talvez, a forma radical, porém fictícia, como a burocracia de estado adotou e aceitou os princípios liberais - estranhos à ordem política e econômica vigente então na Rússia. Dostoievski parece criticar, porém, que apesar da adoção entusiasta dos princípios capitalistas, não há, entre os russos, nenhuma clareza sobre o que seja o capitalismo e ainda por cima há um profundo desconhecimento da realidade do país. Esta filiação dos burocratas ao capitalismo – sistema estrangeiro se expressa claramente na fala de Timofiéti Simiônitch que defende reformas capitalistas, a abolição da propriedade coletiva (pág. 31 e 32), além da atração de capitais internacionais. O crocodilo é um símbolo do exótico, inédito, é um elemento surreal das seqüelas da introdução do capitalismo no mais. Todos o admiram, mas ninguém o compreende.
Muitas vozes se pronunciam sobre o que deve ser o capitalismo, entretanto estas mesmas vozes acabam por deformas o sistema russo transformando-o em um monstro. Todo mundo o compra, o adota, sem saber ao certo do que se trata. O capitalismo é para o autor, talvez, o monstro que vai engolir a Rússia.
Outro ponto importante é como o autor ironiza violentamente o modo como a impressa russa se comporta e deforma os fatos, e a realidade russa.

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