sábado, 12 de abril de 2008

Triângulo



Você pode ainda continuar assim. Sente-se encurralado, mas, entretanto está sempre em trânsito. Em um eterno triângulo identitário e amoroso – mas que lhe devora aos poucos a saúde física e mental. Este triângulo geográfico: Argentina, África do Sul e Europa. Pois que há anos abandonou o que era. Nem mesmo sabe onde nasceu e cresceu; Brasil meridional? Sente que sempre ansiou pelas virtudes criadoras do que é híbrido, múltiplo e complexo. Pela parte que é considerado pelas ovelhas perigoso, pela parte do Diabo, pela parte que quer subverter, e desvendar. Por que são tantas as máscaras e a solidão, de qualquer forma, inexorável. Não que a vida comum te fosse desagradável, muito não, ela apenas lhe é impossível, injusta, sufocante. Por isso escolheu, com liberdade, sem medo, a estrada. Mas não importava para onde, nem o por quê, nem a razão – era apenas uma pulsão – uma vontade de levantar-se e cair na estrada. Aos poucos o sedentarismo tornou-se impossível, e gostava de pensar que fazia parte de uma nova classe de homens: nômades, criativos e doidos.
Entretanto havia sempre um problema, e esse problema tinha quatro letras: fome. Seu modo de vida, aquele que nasceu para vasculhar a imensidão das coisas não era compatível com o modo de vida capitalista – sua própria existência subvertia a razão acumulativa do burguês médio; pois o que acumulava era imaterial: vivencias, poesia e conhecimento. Apenas isso. O resto não lhe importava muito. Mas é verdade que queria saber do porquê – mas era um querer difuso – algo de triste e melancólico em uma saudade eterna e longa – não era uma necessidade como era, por exemplo, comer. Porém lhe era uma necessidade vital e profunda – vasculhar as almas e o mundo, desde que assim decidira não consegui se arrepender – havia cada vez mais vitalidade nele, apesar de toda dor e destruição que via.

Guilhermo Breytenbach Bazárov.de Mont Serrat

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