domingo, 27 de abril de 2008

Vinte e seis de abril




Querido J.



Quero dizer-te que nestes dez anos, nada foi em vão e tudo valeu a pena. Eu, como você bem sabe ainda te amo, daquele tipo de amor, que não se encontra em qualquer esquina da vida, do tipo “apesar de”. Entretanto, tenho que lhe falar o que sinto: nossa separação se dá por dois motivos: o primeiro deles é bastante idiota, dentre esses motivos – vaidade, e o segundo, é talvez ainda mais inútil e pouco importante, quando se fala da vida interna das pessoas: dinheiro.


Entretanto, pois que te amo, sempre estive determinado, mesmo quando doente, em lutar para o “nós”; porém percebi enfim que esse “nós” para mim tão importante era um tanto “Eu” para você. Você está certo, é preciso ser “Eu” para depois aprender a ser “Nós”: e por isso eu desisto. Você não entendeu meus motivos. Eu não entendi os teus motivos, já que nem mesmo falaste ou escreveste o “porquê”. Porém, por te amar, e saber que o mundo está cheio de feras, gostaria de te prevenir, se busca um sublime, algo que tivemos quem sabe, por que agora nem mais estou certo disto – isto é mais raro do que diamante, e você não encontrará em qualquer arrabalde vadio, mas seja feita sua vontade. Paixão, ou aquele sentimento de libertação quando se se descobre o que se é, duram menos do que um capricho. Dia vinte e seis de abril Mário de Sá-Carneiro se matou. Nesse dia eu também desisti de lutar por você. Que reine então a vaidade e a luxuria.



Um abraço



João

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