quarta-feira, 26 de novembro de 2008

estrela esquizofrênica

Por Augusto Darien Breytenbach Bazárov
Ou Augusto Patrini

apatrini@terra.com.br

"Se tu nos espetas não sangramos? Se tu nos fazes cócegas não rimos? Se tu nos dás veneno não morremos? Se nos fazes mal, não devemos nos vingar?".
Shakespeare, O mercador de Veneza.



É era uma estrela multifacetada. Múltiplas vagas de ressentimento e dor, e aquele cheiro de erva doce e sémem. Esquecia-se sempre e nem sabia do que, mas que eram vários, sempre, intensos intuídos. Neozine, alprazolam, diazepan, rivotril, dormonid, pondera, certralina, valium, bromazepam, frisium, frontal, fluoxetina, paroxetina, prometax, buspirona, e claro, um pouco de algo e agorismo, por que achava que a propriedade privada não era necessariamente melhor ou pior que a coletiva, só não queria e nem gostava do Estado e das multinacionais, escolhendo-lhe, o que comer, o que fazer, com quem dormir ou pior como e por que e como viver e gozar. Contudo sabia, no fundo, trata-se de um poder difuso e sem centro, que fazia de nossa liberdade uma vigília. Não queria mais ser o que todos os anjos sem consciência são: “insetos espermáticos” e patéticos.
Pois bem que para ele bastava um ramo de flores rubras e sua intensidade louca escorrendo como um líquido espesso gosmentos e oleoso por entre as quadras das noites - sem estrelas mas com algum excremento fútil. Do cheiro não mais se lembrava, o que ficava sempre era aquele cheiro de erva-doce, de mel e de púrpura dor, e vícios e insanidades temporárias. Esses “Eus” já não eram unos, eram multifacetados, sofridos e blefavam, árduos e fortes nessa negritude funda e imunda da vida insignificante, cotidiana e tola dos insetos espermáticos. Bobos, sorrindo-se sempre e contradizendo-se múltiplos em várias formas de comportamento e sonho. É que sabia bem, uma cobra criada e venenosa podia ser fofa, terna e meiga. E como dizem “do bem” – expressão imbecil. Risos mornos e tenros, para depois partir, ferir e destroçar aquela carne toda branca e tenra. Tudo tem um fim, todos temos esse direito, nem que ao menos seja prometido, vislumbrado ou sugerido. Um final, uma finalidade, por que no fundo sabemos de nosso grande e majestoso finito, nossas inevitáveis sepulturas frias e toscas. Branco. Branco. Bom, mal, suspiros.
Cala-te.

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