terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Extinção

Por Augusto Darien Breytenbach Bazárov

Pois que de tudo que faço, por estúpido, vão ou louco, sou ignorado e até algumas vezes odiado. Porém, é por que eu tenho aquele dom: o dom de não temer o mal tom, o constrangimento, e aquele amor cruel que diz a verdade.
Eu sonhei que vivíamos entre escombros, entre ladrões torpes e mentirosos. Eu sonhei que vivíamos entre poeira, cinzas, e lixo. Onde tudo se resumia a remendos, esconderijos e medo. E isso era por que abandonamos o que somos, e tornamo-nos o que temos.
E por que? Vejam bem somos todos tolos, fúteis, esnobes e egoístas – damos preços a coisas sem preço, e durante uma vida buscamos acumular mentiras como dinheiro, glória e poder. E assim, com falsas alegrias, crueldades cotidianas, e mesquinharias. Lembro de Helberto Helder, grande poeta português em “Passos em Volta”: “Somos também um povo cheio de fé. Temos fé na guerra, na justiça, na crueldade, no amor, na eternidade. Somos todos loucos” (p. 95 Teorema). O que vale para portugueses, vale certamente para luso-brasileiros ou apenas brasileiros. E é por isso talvez que eu também esteja um tanto louco e perdido, sozinho, e um pouco morto – choro, grito, falo, gesticulo – e só quem me ouve são paredes brancas – vocês permanecem mudos, não me ouvem, não me vêem e não me resgatam de mim mesmo – desse poço sem fundo, dessa vida perigosa e fulgurante, desse estar tenso e flamejante onde só existe terror e pouca alegria. Falsa liberdade, onde não posso mais essa luz, esse sol e, pior, toda essa dor e resignação. Eu, louco, idiota, demoníaco, e elemental, nunca me submeto ao mundo das coisas feitas – assim destas coisas que parecem ser o que realmente não são. Todos mentindo, sorrindo e dando apertos de mãos. Todos de bom tom, todos fingindo saber quem são. Eu não finjo, sei que não sei, sei que já nem sou, que sou vários, aquela legião cheia de furor e ventos, aquela legião de vozes que todos negam.
É por isso que estou desesperado, falando e gritando em um quarto branco sem janelas – é por isso que fujo, para um além, para onde se veja o rio e para onde se abra a América. E onde fica clara minha falta de opção, minha solidão e verdadeira miséria. Pois que me perdi, e tenho saudades de mim. Caminhando por essas terras, por este tempo, cheios de ódio, negligência e sangue, eu escuto as milhões de vozes – e sei, nessa audição de alucinado da miséria e da dor do mundo. Não é fácil aceitar que o mundo é o que é. Eu me pergunto: continuaremos a dizer sim ao espírito da morte? Ao que sangra e destrói? Eu quero fugir desse sol abrasador, dessa luz que cega, e quero dizer sim a vida, quero parar com tantos ditames mortais, e já nem quero escutar sozinho – não quero que sejamos essas larvas tristes e cinzas do que poderíamos e podemos ser – alem dessa glória perdida de uma espécie que se destrói e trai.
É por isso, que nestes frios , nestes pavores todos, que não quero ouvir mais esse clamor, por que eles vêm de bocas surdas e mudas – e não adianta sorrir e fingir que tudo vai bem – estamos todos agora, e no futuro mortos.
A terra e o mar, sem tempo e espera tragarão tudo para o fundo dessa nossa inevitável e desejada extinção.

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