quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O Cavalo de Fogo



Edgar Allan Poe


Parecia-lhe impossível arrancar seu olhar da fascinação desta tapeçaria. Mas, o tumulto de fora tornando-se de súbito mais violento, ele fez enfim um esforço, em um enorme pesar, e direcionou sua atenção em direção a uma explosão vermelha, projetada sobre o estábulo inflamado sob as janelas do apartamento. A ação, no entanto, foi apenas momentânea; seu olhar retornou maquinalmente para a parede. Para sua grande surpresa, a cabeça do gigantesco cavalo de corrida – coisa horrível! - tinha durante este tempo, mudado de posição. O pescoço do animas, inicialmente inclinado como que por compaixão em direção ao corpo de seu senhor ao chão, estava agora estendido, ereto, e em toda sua longitude, em direção do barão. Os olhos, há minutos invisíveis, continham agora uma expressão enérgica e humana, e eles brilhavam com um vermelho ardente e extraordinário; e seus lábios, distendidos deste cavalo com uma fisionomia enraivecida deixavam perceber plenamente seus dentes sepulcrais e asquerosos.


(Tradução: Augusto Patrini, da tradução francesa feita por Charles Baudelaire)



Edgar Allan Poe - Le cheval de feu



Il lui paraissait impossible d’arracher son regard à la fascination de cette tapisserie. Mais le tumulte du dehors devenant soudainement plus violent, il fit enfin un effort, comme à regret, et tourna son attention vers une explosion de lumière rouge, projetée en plein des écuries enflammées sur les fenêtres de l’appartement. L’action toutefois ne fut que momentanée ; son regard retourna machinalement au mur. A son grand étonnement, la tête du gigantesque coursier - chose horrible ! - avait pendant ce temps changé de position. Le cou de l’animal, d’abord incliné comme par la compassion vers le corps terrassé de son seigneur, était maintenant étendu, roide et dans toute sa longueur, dans la direction du baron. Les yeux, tout à l’heure invisibles, contenaient maintenant une expression énergique et humaine, et ils brillaient d’un rouge ardent et extraordinaire ; et les lèvres distendues de ce cheval à la physionomie enragée laissaient pleinement apercevoir ses dents sépulcrales et dégoûtantes.



Edgar Allan Poe - Metzengerstein, in Histoires extraordinaires (Traduction de Charles Baudelaire)

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