quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Descubro-me, descubro-te


Augusto Patrini

Ao som de Wake up, the arcade fire


I.

Subitamente eu olhei para fora. Pela janela, com o vento batendo em meu rosto. Eu vi. Olhei, e com surpresa descobri: era alegria. Daquele tipo raro, gratuíta e simples: apenas plantada ali, com olhar de puro tigre.

Medo. Pânico e susto. Pois que escutei de tua boca: “eu não te amo mais”; mas no fundo, será?, o que eu sentia era uma alívio lívido? Eu olho para fora... olho para além do que me dás, para o que um dia fomos e descubro. Que.

Que tudo pode ser diferente disso do que somos, do que fomos, sei que te perdi, sei que você me perdeu, e sei que no fundo nos descobrimos.

II.

Você entra. Olha com olhos verdes pelos cantos. São tantas as sombras e obcurecências, rutilências e vapores. Você não espera nada. Você não deseja nada além da superfície pele, e dos pêlos. Você não vê, mas encontra. Os vapores, os cantos úmidos e os velhos lamacentos e cinzas espreitam-te. Devoram-te com os olhos. Mas você olha pelos cantos e nada vê. Somente espera a sensualidade das águas, e as esperas por algo que não tem nome. É a soma do teu eco, do teu oco e do mistério que nunca encontras, mas que ainda te faz ser o que és, pois que no fundo buscas, buscas, e buscas, para, além disso, tudo que é. Em alguma transcendência mágica e espiritual. Você procurou no tempo e no espaço, em outra terra, em outra substância, Mas não encontrou nada além de você transfigurado em legião, em esquizo-púrpura transfigurado. Você era o mistério que não procurava.

Pois entre vapores e escuridão, réstias de penumbra e dores, encontrei-te; a cara, a alma, as carnes. Eu navalha, espírito mistério e partido. Eu disse: "há cristais coloridos/ nos teus olhos/ vida viva nos teus dedos."

III.

Eu, nós entrei/amos, medo da escuridão. Cheio de fogos e ira. Furor. Nada esperava, nada queria, apenas um pouco de alento, de suspiros tolos e sexo impessoal. Veleidade pura e simples. Luxúria de vozes e ecos. Infinito querer de carnes e bocas. Eu/nós eramos todos, vários, uma legião... Multidão. Cético, tolo e verbo. Não queria, nem podia crer ou ter fé, em um, dois, três homens, mas no quarto, na última vez. Eu/nós, ecos das vozes da terra e do submundo, estranhamo-nos, devastando-nos, devastando. Almas perdidas, esperanças partidas, infinitos sobrepujados.

E então. Uma, duas, três gotas, e no teu rosto, eu vi. No teu rosto eu vi, vi aquilo que nem procurava, o meu rosto, os nossos rostos. Entre vapores, medos, terror e carne. Eu nem era mais a lâmina, aquela navalha cega, eu/você era mais. Era/éramos a possibilidade do fato, do encontro, e do conforto que nem mais acreditávamos. É por isso, que nesse dia, eu era tigre; escolhi tua carne, teus olhos, tuas falhas, tuas vozes, teus peitos. E louco, tenso, absorveu-me no escuro, esquecido do mundo e da rua. Minha ira tornou-se terna e eu quase quis adormecer-me em tua face/rota. Mas eu nem mais sabia o que era isso, e por isso, saiba, tive que engolir minha própria carne, meu próprio ódio. As minhas ânsias todas, e fomes, eternamente despertas e surdas. Você me torturou com teus dias, com tuas promessas não ditas, com tuas milhas, e eu, tonto, bobo, louco, suspirando senti, o que havia de sentir, que, o tempo, a carne e o espaço eram único ciclo da mesma verdade sem eco. Eu perdi-me para encontrar-me no oco. Para encontrar-te no eco.

Eu já nem sei o que digo. Escuto as vozes, vozes do tempo e do passado, hunos e hebreus parecem-me um tanto distantes, mas encontram-se tolos nas minhas vagas de esperança e poesia. Pois que eu fera não acreditava em mais nada, e que de camelo havia tornado-me leão, de súbito instante me vi criança, a dizer “sim”, e a esperar o “amor fati”.

E então, percebi, que nem mais teu medo eu temi.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Dúvidas para Laura Schlessinger


Laura Schlessinger é uma personalidade do rádio americano que distribui conselhos para pessoas que ligam para seu show.

Recentemente ela disse que a homossexualidade é uma abominação de acordo com Levíticos 18:22 e não pode ser perdoada em qualquer circunstância. O texto abaixo é uma carta aberta para Dra. Laura, escrita por um cidadão americano e também disponibilizada na Internet.

?Cara Dra. Laura

Obrigado por ter feito tanto para educar as pessoas no que diz respeito à Lei de Deus. Eu tenho aprendido muito com seu show, e tento compartilhar o conhecimento com tantas pessoas quantas posso. Quando alguém tenta defender o homossexualismo, por exemplo, eu simplesmente o lembro que Levíticos 18:22 claramente afirma que isso é uma abominação. Fim do debate.


Mas eu preciso de sua ajuda, entretanto, no que diz respeito a algumas leis específicas e como seguí-las:

a. Quando eu queimo um touro no altar como sacrifício, eu sei que isso cria um odor agradável para o Senhor (Levíticos 1:9). O problema são os meus vizinhos. Eles reclamam que o odor não é agradável para eles. Devo matá-los por heresia?

b. Eu gostaria de vender minha filha como escrava, como é permitido em Êxodo 21:7. Na época atual, qual você acha que seria um preço justo por ela?

c. Eu sei que não é permitido ter contato com uma mulher enquanto ela está em seu período de impureza menstrual (Levíticos 15:19-24). O problema é: como eu digo isso a ela? Eu tenho tentado, mas a maioria das mulheres toma isso como ofensa.

d. Levíticos 25:44 afirma que eu posso possuir escravos, tanto homens quanto mulheres, se eles forem comprados de nações vizinhas. Um amigo meu diz que isso se aplica a mexicanos, mas não a canadenses. Você pode esclarecer isso? Por que eu não posso possuir canadenses?

e. Eu tenho um vizinho que insiste em trabalhar aos sábados. Êxodo 35:2 claramente afirma que ele deve ser morto. Eu sou moralmente obrigado a matá-lo mesmo?

f. Um amigo meu acha que mesmo que comer moluscos seja uma abominação (Levíticos 11:10), é uma abominação menor que a homossexualidade. Eu não concordo. Você pode esclarecer esse ponto?

g. Levíticos 21:20 afirma que eu não posso me aproximar do altar de Deus se eu tiver algum defeito na visão. Eu admito que uso óculos para ler. A minha visão tem mesmo que ser 100%, ou pode-se dar um jeitinho?

h. A maioria dos meus amigos homens apara a barba, inclusive o cabelo das têmporas, mesmo que isso seja expressamente proibido em Levíticos 19:27. Como eles devem morrer?

i. Eu sei que tocar a pele de um porco morto me faz impuro (Levíticos 11:6-8), mas eu posso jogar futebol americano se usar luvas? (as bolas de futebol americano são feitas com pele de porco).

j. Meu tio tem uma fazenda. Ele viola Levíticos 19:19 plantando dois tipos diferentes de vegetais no mesmo campo. Sua esposa também viola Levíticos 19:19 porque usa roupas feitas de dois tipos diferentes de tecido (algodão e poliéster). Ele também tende a xingar e blasfemar muito. É realmente necessário que eu chame toda a cidade para apedrejá-los (Levíticos 24:10-16)? Nós não poderíamos simplesmente queimá-los em uma cerimônia privada, como deve ser feito com as pessoas que mantêm relações sexuais com seus sogros (Levíticos 20:14)?

Eu sei que você estudou essas coisas a fundo, então estou confiante que possa ajudar. Obrigado novamente por nos lembrar que a palavra de Deus é eterna e imutável. Seu discípulo e fã ardoroso.?

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Então amo como resposta!


“Estou sendo alegre neste instante, por isso me recuso a ser vencida. Então amo como resposta”
Clarice Lispector